janeiro 26, 2008

Livros que não se encontram nas livrarias de Teerão



Como é sabido por toda a comunidade académico-científica, desde que o Presidente iraniano, Mamoud Ahmadinejad defendeu a sua tese na Universidade de Columbia, em 24 de Setembro de 2007, "não há homossexuais no Irão". Assim, os estudos queer não existem nas universidades iranianas, não por qualquer preconceito da sociedade e do regime dos ayatollahs contra os homossexuais e, muito menos, por sentimentos de homofobia contra o "outro", mas pelo motivo bem objectivo e científico de falta de objecto de estudo. Só por esta razão, e, que fique bem claro, não por motivos de censura ou de homofobia como acontece nas sociedades europeias e ocidentais, não existe nas livrarias de Teerão o livro do professor David M. Halperin, Saint=Foucault, Towards a Gay Hagiography (aliás, essa é também a razão que leva a que o GLQ: A Journal of Gay and Lesbian Studies, co-editado por Halperin, não esteja disponível na biblioteca da Universidade de Teerão). Para aqueles que contestam a tese de Ahmadinejad, brilhantemente defendida em Columbia contra um júri e um público conservador, convém lembrar que vários estudos empíricos comprovam que o último (e único) homossexual alguma vez visto no Irão foi um ocidental, o filósofo francês, Michel Foucault, nos idos tempos da revolução iraniana de 1978/79, um dos maiores gurus pós-modernos da emancipação e empoderamento dos oprimidos. Na sua faceta de jornalista de investigação, Foucault mostrou fascínio pelo Ayatollah Khomeini e pela sua forma inovadora de "espiritualidade política" introduzida na sociedade iraniana, bem documentada nas crónicas jornalísticas para os leitores do Corriere della Sera, Le Monde e Le Nouvel Observateur. O entusiasmo de Foucault pela governação empoderadora dos oprimidos do Ayatollah Khomeini, e pela sua forma pré-moderna de "disciplinar e punir", que incluía técnicas de enforcamento de homossexuais, é de facto contagiante como mostra o livro de Kevin Anderson e Janet Afary. Por tudo isto, é fácil perceber a enorme injustiça das críticas a Ahmadinejad.
JPTF 2008/01/26

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