janeiro 13, 2008

Incursões na liturgia do pós-modernismo: "Why We Are Not Nietzscheans", Luc Ferry e Alain Renaut (eds), Imprensa da Universidade de Chicago, 1997


Quem pensa que as práticas de culto entraram em declínio com os avanços da ciência, da tecnologia e a secularização materialista das sociedades ocidentais, sendo banidas da academia, engana-se. Em Porque não Somos Nietzscheanos, uma obra editada por Luc Ferry e Alain Renaut, originalmente publicada em língua francesa em 1991, os autores mostram como uma liturgia nietzscheana, dedicada àquele que "justamente" é considerado o santo-patrono do pós-modernismo, está viva, de boa saúde, e bem instalada na academia. Esta tem os seus dogmas, os seus rituais, os seus evangelizadores e os seus devotos, particularmente nas Humanidades e Ciências Sociais. A França, nos anos 60, ficou famosa como terra de fé, tendo dado ao mundo uma geração inesquecível de evangelizadores, onde se destacaram nomes como Deleuze, Derrida e Foucault. Infelizmente, nunca mais surgiu uma geração que igualasse em devoção ao culto nietzscheano a do Maio de 68. Mas, como em todos os cultos, existem apóstatas incómodos que insistem em contestar os dogmas e ameaçam perigosamente a fé dos crentes. Ironicamente, foi em terra francesa, no passado a mais promissora para as profecias de Nietzsche, que Alain Boyer, Andre Comte-Sponville, Luc Ferry, Alain Renaut, Robert Legros, Philippe Raynaud e Pierre-Andre Taguieff escreveram este conjunto de ensaios que se arrisca a chocar o pudor dos crentes no relativismo pós-moderno e a abalar profundamente as suas convicções mais sacralizadas.
JPTF 2008/01/13

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