março 03, 2008
A Queda de Marx e a Ascensão de Maomé nos Balcãs (Parte IV)
A situação mais complexa actualmente é a dos novos Estados que resultaram do desmembramento da antiga República Federal Socialista Popular da Jugoslávia, criada no pós II Guerra Mundial, por Josep Broz, mais conhecido como marechal Tito, nascido em 1892 de pai croata e mãe eslovena, em Kumrovec, altura ainda uma província do Império Austro-Húngaro (hoje faz parte da Croácia). Aparentemente, a paz autoritária imposta por Tito, associada à antipatia ideológica do comunismo ao «ópio do povo», teriam colocado os muçulmanos jugoslavos (tal como as outras confissões religiosas cristãs) numa situação delicada, similar, por exemplo, a dos albaneses, sob Enver Hosha. A realidade foi bastante diferente. A ruptura do governo comunista jugoslavo de Tito com a ex-URSS, que ocorreu a partir de 1948, levou o regime a procurar novas alianças no exterior. A partir de 1955, com a Conferência de Bandung, que surgiu na sequência de uma iniciativa conjunta da Jugoslávia (Tito), do Egipto (Nasser) e da Índia (Nehru), e na qual ganhou forma o Movimento dos Não-Alinhados, este movimento tornou-se na principal linha de política externa e de alianças da Jugoslávia. Esta vertente externa associada à complexidade dos equilíbrios étnico-religiosos internos favoreceu os muçulmano jugoslavos (leia-se a comunidade muçulmana da Bósnia-Herzegovina), a mais importante e mais numerosa, e, aspecto importante num Estado de «eslavos do Sul», a única formada por populações eslavas. Assim, sob a liderança de Tito, tornaram-se na principal imagem de marca de um regime que pretendia mostrar-se amigo incondicional dos povos árabes e muçulmanos, que eram a maioria dos membros do Movimento dos Não-Alinhados. Desta forma, dignitários influentes do mundo muçulmano como Kadhafi (Líbia) ou Nasser e Sadat (Egipto), foram nessa época recebidos na Jugoslávia em cerimónias simbólicas solenes, efectuadas nas principais mesquitas da Bósnia. Ainda sob os auspícios do governo de Tito e da Autoridade Suprema islâmica da Jugoslávia, ocorreram frequentes intercâmbios culturais e religiosos com o mundo árabe-islâmico e foram até construídas novas mesquitas, algo particularmente invulgar sob um regime comunista. Esta política que favoreceu a comunidade muçulmana da Bósnia – a qual, no final dos anos 60, passou a ser reconhecida com uma nação constitutiva da federação jugoslava, os Muçulmanos com «M» –, e que foi motivada por uma estratégia de um regime que pretendia apresentar-se (aos aolhos do mundo árabe e islâmico), como seguidor de Marx e de Maomé, acabou por alimentar a complexa engrenagem de um conflito que explodiu violentamente com o ruir da ordem da Guerra Fria.
JPTF 2008/02/03
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