março 20, 2008
"Quando os Estilos de Vida Colidem", livro de Paul M. Sniderman e Louk Hagendoorn, Imprensa da Universidade de Princeton, 2007
Paul M. Sniderman e Louk Hagendoorn efectuaram um importante estudo de caso sobre a experiência multicultural mais ambiciosa da Europa: a da Holanda. Pelas razões que veremos já em seguida, o livro poderia também ter como sub-título: "o fracasso da utopia multicultural holandesa". Importa começar por notar que as conclusões dos autores são baseadas numa investigação empírica iniciada em 1998 na sociedade holandesa, não tendo qualquer ligação directa com os acontecimentos de 11 de Setembro. No cerne do livro está a maneira como a ideologia e políticas multiculturais, que marcaram a sociedade holandesa a partir dos anos 60 - e se basearam em promessas de ‘progressivismo‘ social, que eliminaria o preconceito e promoveria o reconhecimento igualitário das diferentes culturas -, é vista pelo indivíduo comum. Para além disso, são analisados os resultados das políticas multiculturais, que em muitos aspectos, acabaram por ser o oposto do pretendido. Por exemplo, no caso dos muçulmanos que emigraram para a Holanda, os resultados das políticas multiculturais foram, frequentemente e de forma paradoxal, o de preservar e promover algumas das práticas mais iliberais e conservadoras existentes nas áreas mais sub-desenvolvidas dos países de origem dos emigrantes. Ainda que involuntariamente, as políticas multiculturais legitimaram comportamentos arcaicos e práticas tradicionais de discriminação das mulheres e crianças, bem como a separação dos sexos na esfera pública. Em vez de uma integração na sociedade de acolhimento acabou por ser estimulado um crescente apartheid social, ao subsidiarem, por exemplo, a educação em escolas religiosas separadas do resto da sociedade. O estudo mostra também como multiculturalismo na Holanda nunca foi o resultado de qualquer pressão da generalidade da sociedade para a adopção dessas políticas. Pelo contrário, teve sempre, e tem hoje mais do que nunca, um grau de descontentes (muito) significativo. O seu impulso resultou de uma pretensão das elites educarem e "iluminarem" as massas, algo extremamente questionável numa sociedade democrática, baseada no princípio da soberania popular.
JPTF 2008/03/20
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