março 02, 2008
A Queda de Marx e a Ascensão de Maomé nos Balcãs (Parte III)
Os muçulmanos dos Balcãs são tradicionalmenter formados por grupos bastante diversificados, quer do ponto de vista étnico-linguístico, quer do ponto de vista religioso. No plano étnico-linguístico encontramos quatro grandes grupos: os albanófonos (entre 4 milhões a 4,5 milhões, vivendo principalmente na Albânia, no Kosovo, na Macedónia e no Montenegro); os eslavófonos (cerca de 2,5 milhões), que se subdividem em falantes do servo-croata (muçulmanos/bósnios da Bósnia-Herzegovina, do Sandjak na Sérvia, do Kosovo e da Macedónia), do Macedónio (goranis do Kosovo e da Albânia e torbexes da Macedónia) e do búlgaro (pomaques da Bulgária e da Grécia); os turcófonos (pouco mais de 1 milhão), que se encontram na Trácia grega, na Bulgária, na Macedónia, e mais residualmente no Kosovo e na Roménia; e encontramos também ciganos muçulmanos, que falam o «roma» e outras línguas vernaculares, presentes um pouco por todo o conjunto dos Balcãs. Por sua vez, no plano religioso, e para além de um grau de práticas religiosas que pode ser muito variável, existem diferenças de relevo entre uma maioria sunita (de rito hanefi/hanefita), mais ou menos ortodoxa, e os grupos heterodoxos de alevis-kizilbaxes (na Trácia grega e na Bulgária), os bectaxis (em regiões da Albânia, da Macedónia e na zona de Djakovica, no Kosovo) que, entre si, têm em comum o facto de partilharem uma devoção particular por Ali, o genro do Profeta Maomé (neste sentido, e sobretudo os alevis-kizilbaxes, poderão ser considerados como uma espécie de xiismo não ortodoxo). No terreno, e fora do Islão, estas populações interagem sobretudo com populações religiosa e/ou sociologicamente cristãs, ligadas esmagadoramente ao Cristianismo Ortodoxo Oriental, e às suas diferentes Igrejas Autocéfelas de cariz nacional (grega, sérvia, búlgara, etc.), numa convivência que nem sempre é fácil e não está invulgarmente isenta de atritos. Apenas um exemplo, o caso da Grécia, que é um país democrático, membro da União Europeia desde 1981, e de longe o Estado mais consolidado e melhor sucedido dos Balcãs pós-otomanos, serve para mostrar bem a complexidade do relacionamento. Na Trácia grega existe uma minoria de populações muçulmanas na ordem das 140.000 pessoas, preservada pelo Tratado de Lausana de 1923, que regulou a dissolução do Império Otomano. Apesar da sua reduzida dimensão está na origem de frequentes atritos entre a Grécia e a Turquia, a começar na designação da mesma: no discurso oficial da Grécia são «muçulmanos»; no discurso oficial da Turquia são «turcos». Há cerca de uma década e meia atrás, a situação agudizou-se quando um dos líderes dos muçulmanos gregos, Ahmet Sadik, decidiu criar um partido comunitário «turco» e teve o apoio entusiástico de alguns partidos na Turquia e da generalidade da imprensa turca. A resposta do governo grego foi drástica: fez aprovar no Parlamento uma alteração à lei eleitoral, criando um patamar mínimo de 3% dos sufrágios a nível nacional, para um partido poder ter representação parlamentar. O resultado foi que dos três habituais deputados muçulmanos normalmente eleitos nenhum superou essa fasquia logrando entrar no Parlamento. Esta é uma medida também bem conhecida da Turquia onde a respectiva lei eleitoral impõe a obtenção de pelo menos 10% dos sufrágios a nível nacional, para um partido poder obter representação parlamentar, sendo o alvo principal desta a minoria curda.
JPTF 2/03/2008
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