fevereiro 02, 2008
"A Revolução Islâmica no Ocidente: os árabes nunca invadiram a Espanha."
Está-se sempre a aprender ao longo da vida. Com o livro de Ignacio Olagüe Les arabes n´ont jamais envahi l´Espagne, na tradução espanhola estimulantemente (re)convertido em La Revolución Islamica en Occidente. El Mito de La Invasión Árabe de España, então ainda mais. Na sua modesta conclusão para um trabalho desta envergadura, Ignacio Olagüe afirma que "não foi a expansão do Islão para o Ocidente o resultado de uma sucessão de invasões militares milagrosamente conseguidas, mas o resultado de um clima revolucionário que permitiu o nascimento de novos conceitos. Por isso, pode-se concluir que os acontecimentos políticos concebidos como consequências de acções guerreiras são aparentes, como o são certos fenómenos físicos e biológicos". Tendo estabelecido esta nova "verdade histórico-científica", Olagüe aponta também novos caminhos à historiografia francesa e mundial: "Depreende-se da nossa rectificação um ensinamento e interessa à história de França... e para além dela à história universal. Perde o lugar até agora transcendental que até agora havia ocupado nos anais da história da humanidade a batalha de Poitiers, na qual Carlos Martel rompeu com a expansão dos árabes no Ocidente. Pois seria muito extraordinário que este guerreiro tivesse aniquilado os seus exércitos, se anteriormente estes não se encontravam na Península Ibérica... e com antecipação no Norte de África. Com maior verosimilhança tratou-se de um simples combate a que se opuseram gentes do Norte e do Sul das Gálias". Brilhante! Só me interrogo como centenas de historiadores antes da era Ignacio Olagüe (a. I.O.) não puderem ver isto. Afinal, para qualquer espírito aberto a novas ideias é fácil perceber que não podiam ter atravessado o larguíssimo estreito de Gibraltar. Como é que um povo tribal e atrasado como os árabes teria engenho e arte para o fazer?
Mais impressionado do que um leigo como eu, ficou o jovem historiador espanhol da Universidade de Sevilha, Emilio González Ferrín. Na sua recente Historia General de Al-Andalus (2006), recuperou a tese Ignacio Olagüe, originalmente editada em 1964, em Paris. Temerariamente, González Ferrín não se deixou afectar psicologicamente pelo facto de outros investigadores mais séniores, como Dolores Bramon, professora de Estudos Islâmicos da Universidade de Barcelona, terem qualificado o livro como um conjunto de "disparates sobre o Islão" e uma "obra de ciência-ficção" em vez dum livro de História. Como um inovador que rompe tabus nos estudos árabes-islâmicos, partilha da ideia que não houve invasão muçulmana no ano 711. No seu volume de mais de 600 páginas parece também não discordar da ideia de Olagüe que o "Islão andalusiano nasceu em consequência de uma evolução espontânea do Cristianismo hispânico". Mas Olagüe vai mais longe, pois, como diz Dolores Bramon, sustenta que processo de geração espontânea "desembocou numa guerra civil entre unitários e trinitários, cuja documentação teria sido destruída pela intelligentzsia do Vaticano". Confesso que esta nova hermenêutica, com um pouco de teoria da conspiração à mistura, é bem mais vibrante do que a antiga. Para além de me causar um certo frisson, faz-me lembrar aquele monumental trabalho de investigação histórica, que é o Código Da Vinci, de Dan Brown. Voltando a Olagüe, como explica González Perrín, este, mesmo "sem ser arabista ou islamólogo", conseguiu captar "na perfeição o modo como o Islão se cristalizava muito mais tarde no Al-Andalus - e não em 711 -; pôs de quarentena essa pretensa invasão" (p. 81). Não há dúvidas que nada será como dantes no estudo do Al-Andalus. O editor do livro bem nos tinha avisado num panfleto divulgativo: "A Revolução Islâmica no Ocidente de Olagüe, marca um antes e um depois na História. A História Geral do Al-Andalus também o fará." Dan Brown que se cuide que a concorrência começa a apertar e a ficar mais sofisticada: já usa notas de rodapé, bibliografia e tem uma aparência científica.
JPTF 2008/02/02
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Também o historiador portuguûes Oliveira Martins,em finais do século XIX,já tinha chegado à conclusão que a rápida aceitação do Islão na Península Ibérica se deveu à introdução de uma revolucionária forma de relacionamento social,alternativa ao descalabro que a monarquia visigótica e as perseguições aos judeus(em 694) tinha gerado entre os habitantes peninsulares.A lenda da conquista pela cavalaria árabe composta por 7.000 homens não seria possível sem a aceitação da nova ordem social.
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