abril 01, 2007

“A matemática ocidental: a arma secreta do imperialismo cultural” de Alan Bishop in The Post-Colonial Studies Reader, 2ª ed., 2006



A matemática ocidental é uma forma de imperialismo cultural que oprime as minorias e gera exclusão social?


Na sua própria apresentação editorial ao público, O Leitor dos Estudos Pós-Coloniais surge como “uma introdução essencial aos mais importantes textos da teoria pós-colonial”. Esta publicação que já vai na 2ª edição em língua inglesa, abrange múltiplas perspectivas “reflectindo a notável diversidade de trabalho na disciplina e o carácter vibrante dos escritos anti-imperialistas dentro e fora dos centros metropolitanos.” Representa também “um ponto de partida ideal para os estudantes e as temáticas pós-coloniais e um poderoso desafio às formas como nós escrevemos e pensamos sobre literatura e cultura”. Nesta colectânea, sem dúvida um dos artigos mais vibrantes é assinado por Alan Bishop, professor Emérito de Educação na Universidade de Monash, na Austrália. Durante 23 anos leccionou na Universidade de Cambridge, antes de ir para Monash, em 1992, como professor de Educação. O seu artigo “A matemática ocidental: a arma secreta do imperialismo cultural”, inserido no já referido Leitor dos Estudos Pós-Coloniais editado por B. Ashcroft, G. Griffin & H. Tiffin (Routledge, Londres, pp. 71-76, na 1ª ed.), contém uma importante reflexão epistemológica sobre a matemática ocidental e o seu ensino, que merecia mais atenção e divulgação em Portugal, pelo seu carácter inovador. Como Bishop sugere, a matemática, sob uma capa de (pretensa) objectividade e universalismo, tem sido utilizada como um instrumento de “imperialismo cultural“ ao serviço da sociedade capitalista, para silenciar identidades e culturas de povos não ocidentais (existem vários “sistemas matemáticos alternativos“ cujo saber é menosprezado). Por exemplo, na Papua Nova Guiné foram detectados cerca de 600 sistemas de contar diferentes. Isto sugere que devemos reconhecer a “etno-matemática“ como um “mais localizado e específico conjunto de ideias matemáticas“, fora da Matemática (ocidental) dominante. Desta forma, tem-se assistido a uma crescente exclusão e marginalização de crianças e jovens de grupos minoritários, cuja cultura é desvalorizada. O autor deste notável artigo científico é um reputado académico britânico, conselheiro de governos e instituições internacionais. Foi Presidente da Associação de Matemática do Reino Unido, pertencendo ao comité da Real Sociedade de Educação Matemática, tendo sido representante do Reino Unido na Comissão Internacional para o Ensino da Matemática, e conselheiro de agências governamentais sobre as políticas de educação na matemática. Efectuou também um investigação para aconselhamento do influente Comité Cockcroft no Reino Unido, que mudou a política de educação em muitos países, incluindo a Austrália. É membro da Associação de Matemática de Vitória, na Austrália. É conselheiro da UNESCO para assuntos de educação matemática.
NOTA: Se ficou convencido que a “matemática ocidental” é mesmo a “arma secreta do imperialismo cultural” veja agora a crítica feita por Russel Jacoby em “From Utopia to Myopia: How the aesthetic pose crippled political thinking“ na Boston Review http://bostonreview.net/BR24.2/jacoby.html
JPTF 2004/04/01

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