abril 12, 2008
Qual o melhor modelo para um futuro Chipre unificado?
A propósito do relançamento do processo de negociações para a reunificação de Chipre, Andreas Theophanous da Universidade de Nicosia, analisa aquele poderá ser o melhor modelo para garantir o futuro da ilha (simbólica foi a recente re-abertura da passagem em Ledra Street, uma artéria central da dividida Nicosia, tema do livro de prosa poética de Nora Nadjarian). Num artigo publicado no jornal Cyprus Daily, usa, como ponto de partida para esta discussão, dois modelos teóricos de identidade nacional/colectiva: o modelo liberal e modelo etnonacionalista (ver o artigo de Jerry Z. Muller na Foreign Affairs); a estes dois poderíamos acrescentar ainda um terceiro, o modelo multiculturalista. A escolha do modelo de estado e de cidadania é, sem dúvida, um dos pontos mais sensíveis da questão da reunificação cipriota. Tendo em conta as características dos diferentes modelos e a situação sociológico-política no terreno, o melhor modelo para um futuro estado reunificado parece ser o modelo liberal cidadania, ou seja, algo se possa aproximar um pouco do do melting pot que caracteriza tradicionalmente a concepção de cidadania norte-americana. Este coloca o ênfase num sistema de valores comum e inclusivo de todos os cidadãos. Não só rejeita o modelo etnonacionalista que cultiva uma identidade étnico-religiosa não invulgarmente agressiva - e se mostrou explosivo nos conflitos da ex-Jugoslávia -, como também não promove a criação de ‘cidadãos hifenizados‘, como é típico, por exemplo, do modelo multicultural canadiano. O modelo de cidadania liberal abstrai, assim, das diferenças étnicas e religiosas que não são assuntos para a esfera pública, nem para acções governativas, não deixando espaço para políticas separatistas. Neste debate, parece-nos sustentada a posição de Andreas Theophanous, quando afirma que ‘o restabelecimento da economia, sociedade e território em Chipre apenas pode ser promovido através de um modelo integracionista e federal‘. Assim, o modelo etnonacionalista - que foi provavelmente a principal fonte de inspiração dos planos anteriores de reunificação -, acabou por ser também uma parte do problema cipriota. Todavia, o principal problema actual já nem parece ser tanto o modelo etnonacionalista, mas a ideologia multiculturalista em voga no mundo ocidental e nas organizações internacionais, como a ONU e a UE, que têm um papel importante no processo de reunificação. Esta ideologia promove o ‘culto da diversidade‘ e, de alguma maneira também, o surgimento de ‘cidadãos-hifenizados‘ (ver o livro de Neil Bissoondath sobre o Culto do Multiculturalismo no Canada). Frequentemente isto acaba por se transformar num obstáculo à integração de pessoas com diferentes origens étnico-religiosas e linguísticas, bem como à formação e consolidação de um estado unificado e de uma cultura cívica partilhada. No caso de Chipre, ironicamente, assemelha-se ainda ao sistema imperial e teocrático do millet, usado pelos otomanos para governar a ilha até ao século XIX.
JPTF 2008/05/12
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