abril 19, 2008
Príncipes das Trevas, de Laurent Murawiec
Laurent Murawiec, ex-analista da Rand Corporation e actualmente fellow do Hudson Institute de Washington, esteve no centro de uma tempestade política há alguns anos atrás. A polémica ocorreu quando, em 12 de Julho de 2002, apresentou um briefing para um número restrito de altos funcionários no Pentágono, sob o título provocatório de Taking the Saudi out of Arabia. Nessa apresentação efectuada à porta fechada - que algum tempo depois acabou por chegar ao conhecimento da imprensa, daí a polémica -, fez críticas contundentes à Arábia Saudita. Desde logo, começou por notar no briefing que quinze dos autores do 11/S eram de nacionalidade saudita. Em causa ficou também a própria família real, pois Murawiec chamou à atenção para a existência de apoios financeiros e ideológicos a diversos movimentos e organizações normalmente consideradas ligadas aos circuitos do terrorismo (na Palestina, na Bósnia, na Chechénia, em Caxemira, etc). Na sequência desta controvérsia, Murawiec foi forçado a demitir-se da Rand Corporation, alegadamente por pressões sauditas e dos seus aliados no establishment norte-americano. Em Príncipes das Trevas. O Assalto Saudita ao Ocidente (originalmente publicado em francês sob o título La Guerre d´après, 2003; trad. ing., 2005, Princes of Darkness. The Saudi Assault on the West, Rowman & Littlefield, 305 pp.), retomou essa polémica, analisando, de forma desenvolvida, o papel da Arábia Saudita no mundo pós-guerra fria. Segundo este, a relação estratégica mantido com os EUA e o Ocidente é extremamente problemática. Isto porque os sauditas - em teoria um país aliado -, prosseguem, de forma paralela, todo um conjunto de actividades potencialmente lesivas dos interesses norte-americanos e ocidentais: uso do dinheiro do petróleo para expandirem o wahhabismo - uma versão purista e retrógrada do Islão que radicaliza os muçulmanos; apoio, sobretudo através do circuito do zakat, o ‘ imposto de caridade‘, e das ONG´s islâmicas, a movimentos e grupos islamistas radicais e jihadistas; uso do dinheiro do petróleo para tecer uma rede de influências nos lobbies empresariais e políticos e junto do poder em Washington; uso de substanciais donativos a universidades americanas de prestígio (criando centros de estudos islâmicos e oferecendo generosas bolsas), como Harvard e Georgetown, para difundir a sua ideologia religioso-política a coberto ‘diálogo de religiões‘, expandir as finanças islâmicas e a aceitação dos produtos halal (permitidos), ou seja, conforme a Xária (Sharia) islâmica, etc. Uma ilação resulta claramente desta leitura: se Murawiec tem razão quando aponta o dedo à Arábia Saudita nestas actividades ‘subversivas‘, boa parte da estratégia seguida no pós 11/S tem de ser repensada, pois não está a dirigir-se para algumas das principais dimensões do problema. Ou seja, está a subestimar a dimensão social, política e ideológica do islamismo radical, e a pretender minimizar o papel do que poderíamos chamar, de forma paradoxal, os ‘aliados-inimigos‘ (outro caso mais conhecido mas de algum modo comparável neste paradoxo, é o do Paquistão). Isto torna o problema da ‘guerra ao terror‘ bastante mais complexo e multifacetado do que a administração de George W. Bush quer admitir publicamente, e deixa decisões particularmente difíceis nas mãos do próximo Presidente dos EUA.
JPTF 2008/04/19
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