janeiro 26, 2007

Livro “Foucault and the Iranian Revolution” de Janet Afary e Kevin B. Anderson, Imprensa da Universidade de Chicago, 2005




«O Orientalismo romântico de Foucault», podia muito bem ser o título deste livro, que coloca, a partir de uma perspectiva feminista e de esquerda, questões profundas e particularmente incómodas sobre o pensamento de Foucault e a sua crítica enviesada da modernidade. Sendo um dos autores canónicos do actual pós-modernismo nas Ciências Socias e Humanas, o assunto é tanto mais curioso quanto Michel Foucault ganhou fama pela sua «filosofia da suspeição» e pela «desconstrução» das grandes narrativas e utopias ocidentais. Ironicamente, Foucault, o «desconstrutor» e «genealogista», afinal também tinha a sua utopia romântica. Qual era? Vejamos os acontecimentos. Com o início da revolução iraniana, Foucault decidiu visitar o Irão para assistir ao desenrolar desta, que foi objecto do seu particular interesse e entusiasmo como intelectual «engagé». Na sua deslocação ao Irão assumiu um papel de jornalista de investigação, funcionando como correspondente especial do jornal italiano «Corriere della sera». Publicou também algumas das suas peças jornalísticas na imprensa francesa, nomeadamente no jornal «Le Monde» e na revista «Nouvel Observateur». Nesses textos, Foucault retratou de forma quase entusiástica o movimento islamista iraniano liderado pelo Ayatollah Ruhollah Khomeini, vendo-o como uma nova forma de «vontade política», perfeitamente unificada, que abria «uma dimensão espiritual na política». Isto, em contraste com as «cruéis, selvagens, egoístas, desonestas e opressivas sociedades» criadas pelo moderno capitalismo liberal. Como realçam Janet Afary e Kevin B. Anderson, uma ilação profunda resulta do episódio iraniano de Foucault e não está apenas relacionada com este pensador. A ilação é particularmente importante para a actualidade e está relacionada com o fenómeno geral do «fundamentalismo religioso», mostrando a existência de um bloqueio intelectual que afecta várias correntes da esquerda política, impedindo uma resposta adequada a este. Uma leitura que se recomenda aos seguidores e aos críticos.
Esta recensão foi publicada na Crítica: Revista de Filosofia e Ensino http://www.criticanarede.com/
JPTF 26/01/2007

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