janeiro 10, 2007
Entrevista ‘Islamistas à espreita da liberdade‘ in JN 2006/11/29
Entrevista
por Pedro Olavo Simões
Docente universitário e investigador nas áreas da Ciência Política e das Relações Internacionais, José Pedro Teixeira Fernandes tem dedicado boa parte do seu trabalho às questões turcas, sendo autor de Turquia: Metamorfoses de Identidade (Lisboa, ICS, 2005).
As diferenças fazem com que um ocidental não absorva, facilmente, a complexidade da Turquia. E José Pedro Teixeira Fernandes nota uma decorrência de novos desenvolvimentos da ocidentalização, a liberdade religiosa abrirá caminho aos islamistas.
JN|Turquia um Estado laico, onde o peso confessional do Islão é enorme...
José Pedro Teixeira Fernandes|De facto, a população é esmagadoramente muçulmana e o Estado é laico, mas não como nós entendemos não há separação entre Igreja e Estado, mas um controlo da religião pelo Estado.
A população absorveu isso?
O carácter laico e secular foi imposto por uma elite à maioria (o Exército é essencial na manutenção do sistema). O processo de adesão à União Europeia introduz um dado novo como este não é um modelo normal, os sectores islamistas perceberam que a UE é uma forma de terem liberdade religiosa e política, pois não separam as coisas.
O laicismo continua a ser defendido apenas pela elite?
Atatürk impôs uma visão quase pessoal. Mas, apesar de ter saído de um grupo restrito, este laicismo tem seduzido uma camada importante da população o Exército, a Administração Pública, os meios jurídicos... Há uma elite laica turca, de que é paradigma o presidente, Ahmet Necdet Sezer.
Há choque com o Ocidente?
Há uma questão ideológica, ligada ao Islamismo ou Islão político, que tem a estratégia de criar inimizades com o Ocidente, mas cujos primeiros inimigos são os próprios muçulmanos que se lhe opõem. Os islamistas serão uma minoria, mas, estando no poder um partido conservador religioso, parte do eleitorado é muito sensível a estas questões, o que torna difícil a gestão da política interna.
É, realmente, a ponte entre dois mundos?
Uma ponte com virtudes e fracturas internas. A Turquia tem duas facetas difíceis de encaixar uma virada para o Islão, e para o papel na Conferência Islâmica, outra voltada para a UE.
Temos ainda os curdos, a questão cipriota...
Não vejo solução fácil para o problema curdo. Para os europeus, a solução seria a autonomia, como existe em Espanha, mas isso é inconcebível para os turcos. No caso de Chipre, temos a República do Norte, que só a Turquia reconhece, e Chipre, membro da UE, que só governa o Sul da ilha. Há muitos problemas, relacionados com a memória histórica e religiosa, também com questões de propriedade. Ninguém sabe muito bem como é a população do Norte. A Turquia tem alimentado migrações, concedendo a nacionalidade cipriota, pelo que não se sabe quantos são os cipriotas turcos.
Persiste no Ocidente o espectro da ameaça otomana?
Há resistências de raiz histórica, no caso da Áustria, onde 90% da população se opõem à adesão, ou na Grécia. Neste caso, os problemas são maiores questões ligadas com os limites territoriais nas águas do Mar Egeu, os direitos do Patriarcado grego e o simbolismo de Constantinopla... Mas, também, importa notar que há pessoas ainda vivas, que estiveram envolvidas, em 1924, na expulsão de 1,3 milhões de gregos pela Turquia e de 400 mil muçulmanos, pela Grécia. Há feridas abertas.
http://jn.sapo.pt/2006/11/29/primeiro_plano/islamistas_a_espreita_liberdade.html
JPTF 2007/01/10
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário