fevereiro 15, 2007

Livro “Alms for Jihad”, de J. Millard Burr e Robert O. Collins, Imprensa da Universidade de Cambridge, 2006



O livro Alms for Jihad. Charity and Terrorism in the Islamic World/Esmolas para a Jihad. Caridade e Terrorismo no Mundo Islâmico aborda um assunto mal conhecido e bastante delicado, que é o dos circuitos paralelos de recolha e distribuição dos dinheiros do Zakat. Os seus autores, J. Millard Burr (antigo funcionário do Departamento de Estado norte-americano, ligado à operação Lifeline, de ajuda ao Sudão) e Robert O. Collins (historiador da Universidade de Califórnia) analisam, sucessivamente, os seguintes tópicos: o Zakat como terceiro pilar do Islão; a Arábia Saudita e a caridade islâmica; os bancos; o início do Afeganistão; a caridade islâmica e o Sudão revolucionário; o Islão em guerra nos Balcãs; o crescente da Ásia Central e a Rússia; do Afeganistão à Ásia do Sudeste; a Terra Santa; a islamização da Europa; a caridade islâmica na América do Norte. Para os menos familiarizados com esta temática, cabe esclarecer que o Zakat é o imposto de caridadade previsto pela Xária (Sharia), a lei islâmica. O problema é que esta contribuição que, em si mesma, é obviamente louvável e até mostra um lado interessante de justiça social no Islão é, não invulgarmente, utilizada para financiar a Jihad (infelizmente, não no sentido espiritual de luta contra o mal interior, mas sentido de acção física, frequentemente violenta, contra aqueles que os grupos islamistas consideram ser os inimigos do Islão e que podem ser tanto não muçulmanos como outros muçulmanos). Sé é abusivo tirar daqui a conclusão que a generalidade das ONG´s e outras organizações de assistência humanitária islâmica não prosseguem os seus fins altruístas, como quaisquer outras ONG´s, é também ingénuo achar que, a coberto de um ideal dos mais nobres, não operam, no terreno circuitos perversos que nada têm a ver com os ideais humanistas e de ajuda ao sofrimento das populações que estaríamos à espera de ver funcionar. Dada a especificidade cultural e religiosa desta prática e o carácter frequentemente informal da recolha do Zakat – e o aspecto à primeira vista irrepreensível de muitas dessas falsas ONG´s caritativas –, a grande dificuldade prática é saber, em concreto, quando estamos perante estas situações desvirtuadas, que alimentam e difundem ideologias radicais e circuitos de violência, ou apenas de acções caritativas de ajuda desinteressada às populações. Esta dificuldade torna-se ainda mais complexa quando as duas situações se misturam de forma intrincada em várias organizações e acções no terreno, o que é típico dos movimentos islamistas... Uma leitura interessante e particularmente útil, não só para aqueles que estudam as questões de segurança, ligadas ao islamismo radical e ao jihadismo, como para todos os que, para além das boas intenções, estão empenhados em desenvolver uma genuína e eficaz assistência humanitária.
JPTF 2007/02/15

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