maio 07, 2008

E se a União Económica e Monetária for (também) responsável pela estagnação das economias do ‘clube Med‘?


1. No quadro actual em que a economia portuguesa continua a não ter um desempenho satisfatório – e tudo indica que não o terá nem este ano, nem também para o próximo ano – vale a pena recordar um debate, aparentemente já ultrapassado, mas que provavelmente é mais actual do que nunca. Na década anterior, quando o processo de construção da União Económica e Monetária (UEM) estava em marcha, discutia-se se as economias do ‘clube Med‘ (leia-se Portugal, Espanha, Grécia e Itália) teriam condições para a integrar a moeda única europeia, o euro. Colocava-se também a questão de saber se a Eurolândia – o nome dado pelos media à zona euro – seria, ou poderia vir a ser, uma zona monetária óptima, tal como foi teorizada pelo prémio Nobel da economia, Robert Mundell e outros. Ou seja, se reunia os requisitos que, a nível da teoria económica, são apontados para que a introdução de uma moeda única seja bem sucedida. Precisamente também há dez atrás era efectuada a selecção das moedas que transitaram da 2ª para a 3ª fase da UEM, entre as quais o escudo. Recorda-se que altura, e contra as expectativas inicias sobre a incapacidade das economias do ‘clube Med‘ participarem no processo, só a Grécia ficou excluída (em 2000 acabou por juntar-se ao grupo dos países fundadores, após ter recorrido a alguns exercícios de contabilidade nacional ‘criativa‘, para cumprir os critérios de convergência nominal...). Os outros não participantes foram países que optaram por manter a sua moeda nacional, como o Reino Unido, a Dinamarca e a Suécia. Hoje começamos a ter um histórico de dados concretos, os quais, com alguma substância, permitem já analisar um pouco esta experiência monetária e ver se o entusiasmo vivido há uma década atrás em Portugal, por integrarmos o ‘pelotão da frente‘ do euro, como dizia entusiaticamente a nossa imprensa (habitualmente acrítica na discussão das questões europeias), era justificado.

2. Segundo dados do Eurostat, os resultados da evolução do nível de vida das economias do ‘clube Med‘, no período 1997-2007, foi a seguinte (avaliada esta em PIB/per capita corrigido por Paridade de Poder de Compra): Itália de 119,3% para 101.8%; Espanha de 93,5% para 104,6%; Grécia 84,9 para 98,5%; Portugal 76,3% para 73,9%. A isto podemos também juntar os dados da França (o país onde o verdadeiro ‘Clube Med‘, enquanto empreendimento turístico, teve origem...): de 114.9% para 109.7%. Note-se que o valor médio para esta estatística (100%), está feito para a UE 27. Se considerássemos a média para a UE 15 esta seria 110.8% (ou seja, houve um aumento artificial de convergência devido à queda da média pelos alargamentos de 2004 e 2007). Estes resultado mostram claramente que duas das economias do ‘Clube Med‘ retrocederam na última década: a Itália (-17,5%), Portugal (-2,4%) e a própria França (-5,2%). De sinal contrário temos os casos da Espanha, que progrediu 11,1% e da Grécia progrediu 13,8%. Se tivermos em conta que o sucesso da economia espanhola da última década assentou num modelo de crescimento que provavelmente está em vias de se esgotar – construção imobiliária, consumo interno com significativo endividamento das famílias e transferências avultadas ao abrigo dos fundos estruturais (os quais, só por si, induziram um crescimento de 0,84% da economia), acrescidas de apoios financeiros da política agrícola europeia (da qual os agricultores espanhóis são os mais beneficiados, a seguir aos franceses) – não é de excluir que, nos próximos tempos, a Espanha se venha a juntar à Itália e a Portugal nesta estagnação ou até regressão económica e de bem-estar. Por outro lado, se Thomas Mayer, o economista-chefe do Deutsche Bank, tiver razão quando afirma que a Grécia ‘é um acidente à espera de acontecer‘, as perspectivas para o conjunto das economias do sul da Europa tornam-se ainda mais deprimentes. Até agora, as culpas têm normalmente ficado para os executores nacionais – os governos –, vistos como ineficientes e incapazes de cumprir as metas da convergência nominal, sobretudo ao nível do défice orçamental e da dívida pública, bem como de aumentar a competitividade das suas economias. Todavia, uma questão permanece em aberto: se a estagnação económica e o retrocesso do nível de vida persistir nos próximos anos, não será que as apreensões que existiam no início dos anos 90, sobre a inadequação da UEM às economias do ‘clube Med‘, se estão mesmo a confirmar?
JPTF 2008/05/07

Sem comentários:

Enviar um comentário