março 02, 2007

Livro “Twice a Stranger” de Bruce Clark, Londres, Granta Books, 2006


O livro de Bruce Clark, editor de segurança internacional da revista britânica Economist, retrata um dos episódios mais dramáticos e mal conhecidos das primeiras décadas do século XX. Na sua origem está o fim do Império Otomano e a vitória dos nacionalistas de Mustafa Kemal (Atatürk), na “guerra da independência” da Turquia, contra a ocupação das potências aliadas, e a megali idea da Grécia. Ao nível humano, a nefasta consequência foi que entre 1,2 milhões a 1,4 milhões de “gregos” tiveram de abandonar as suas casas e propriedades na Anatólia (a actual Turquia, em cidades como Constantinopla/Istambul, Esmirna e Trebizonda), deslocando-se para a Grécia, que teve de gerir um incremento populacional de quase 25%. Em contrapartida, cerca de “400.000 turcos” tiveram também de deixar as suas casas e propriedades no território da actual Grécia (sobretudo na Macedónia, mas também em locais como a ilha de Creta) e deslocarem-se para a Turquia (3% da sua população turca na época). Por mais estranho que aos olhos de hoje possa parecer, este acordo para a troca compulsiva de populações (de facto uma deportação recíproca), contou com os bons ofícios do norueguês Fridtjof Nansen, Prémio Nobel da Paz de 1922 e Alto Comissário da Sociedade das Nações (SdN) para os Refugiados na época. Uma leitura importante para compreender a identidade grega e turca modernas e os antagonismos e traumas que assolam os dois Estados.
JPTF 2007/03/02

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