As recentes revelações do site WikiLeaks têm potencialmente várias implicações significativas para a diplomacia norte-americana e para os seus aliados (naturalmente também para os inimigos dos EUA – veja-se, por exemplo, os casos das revelações sobre os programas nucleares do Irão e da Coreia do Norte e dos receios que estes geram a nível do Médio Oriente e do Sudeste Asiático). Para uma parte significativa da opinião pública internacional provavelmente até reforçam a convicção da perfídia da política externa norte-americana. Esta será delineada nos bastidores, através de manobras mais ou menos obscuras e de espionagem, sendo largamente amoral, apesar do discurso oficial invocar cinicamente princípios e valores, como a democracia e os direitos humanos. Alguns encontrarão mesmo aí argumentos adicionais para sustentar teorias da conspiração sobre a actuação dos EUA em acontecimentos marcantes da história do século XX e início do século XXI (o ataque japonês a Pearl Harbour, o assassinato de John Kennedy, o 11 de Setembro...). Todavia, o pior impacto para os EUA nem é tanto o de potenciar essa imagem negativa na opinião publica internacional, o que em si mesmo já não é pouco. Também não decorre de terem vindo a público alguns comentários mais ácidos, ou até jocosos, de diplomatas norte-americanos sobre dirigentes políticos de países aliados europeus e não europeus, os quais se encontram em vários telegramas diplomáticos. Nem resulta da revelação de manobras de bastidores para obter informações, eticamente questionáveis, e que, agora, acabaram por se tornar públicas. Na verdade estas manobras já se imaginam existir nalgum tipo de diplomacia e de "jogos de poder", não sendo a sua revelação uma surpresa, a não ser para os que não têm qualquer ideia do que é a política internacional. Passado o furor revelações dos ficheiros WikiLeaks nos media, o impacto negativo mais duradouro e difícil de apagar, será, certamente, o que está associado, na percepção de amigos e aliados, a uma enorme falha de segurança. Esta não permitiu manter a confidencialidade sobre as informações recolhidas pelos seus meios diplomáticos e salvaguardar também os "informantes". (Curiosa é a forma relativamente simples como as informações reveladas pelo Wikileaks poderão ter sido obtidas por Julian Assange, o australiano que é o rosto desta organização e se afirma dedicado à missão da “transparência”. Embora a origem não seja oficialmente conhecida, os mais de 250.000 ficheiros agora revelados poderão ter sido também subtraídos pelo jovem militar, Bradley Manning, já anteriormente detido por suspeita de ter sido responsável pelas revelações de documentos feitas no site WikiLeaks, relativas ao Afeganistão e ao Iraque). Assim, pelo menos nos tempos mais próximos, este ”vazamento de informações” na praça pública irá dificultar muito o trabalho dos seus diplomatas no terreno. Face a esta quebra de confiança na capacidade de sigilo diplomático da principal potência mundial, a recolha de muitas informações fundamentais para o trabalho político-diplomático tornar-se-à particularmente difícil, se não mesmo impossível nalgumas situações. Este é um “dano colateral” que a administração Obama terá dificuldade em reparar e cujas consequências políticas e estratégicas podem ser grandes nos próximos anos.
dezembro 06, 2010
Os ‘danos colaterais‘ dos ficheiros WikiLeaks
As recentes revelações do site WikiLeaks têm potencialmente várias implicações significativas para a diplomacia norte-americana e para os seus aliados (naturalmente também para os inimigos dos EUA – veja-se, por exemplo, os casos das revelações sobre os programas nucleares do Irão e da Coreia do Norte e dos receios que estes geram a nível do Médio Oriente e do Sudeste Asiático). Para uma parte significativa da opinião pública internacional provavelmente até reforçam a convicção da perfídia da política externa norte-americana. Esta será delineada nos bastidores, através de manobras mais ou menos obscuras e de espionagem, sendo largamente amoral, apesar do discurso oficial invocar cinicamente princípios e valores, como a democracia e os direitos humanos. Alguns encontrarão mesmo aí argumentos adicionais para sustentar teorias da conspiração sobre a actuação dos EUA em acontecimentos marcantes da história do século XX e início do século XXI (o ataque japonês a Pearl Harbour, o assassinato de John Kennedy, o 11 de Setembro...). Todavia, o pior impacto para os EUA nem é tanto o de potenciar essa imagem negativa na opinião publica internacional, o que em si mesmo já não é pouco. Também não decorre de terem vindo a público alguns comentários mais ácidos, ou até jocosos, de diplomatas norte-americanos sobre dirigentes políticos de países aliados europeus e não europeus, os quais se encontram em vários telegramas diplomáticos. Nem resulta da revelação de manobras de bastidores para obter informações, eticamente questionáveis, e que, agora, acabaram por se tornar públicas. Na verdade estas manobras já se imaginam existir nalgum tipo de diplomacia e de "jogos de poder", não sendo a sua revelação uma surpresa, a não ser para os que não têm qualquer ideia do que é a política internacional. Passado o furor revelações dos ficheiros WikiLeaks nos media, o impacto negativo mais duradouro e difícil de apagar, será, certamente, o que está associado, na percepção de amigos e aliados, a uma enorme falha de segurança. Esta não permitiu manter a confidencialidade sobre as informações recolhidas pelos seus meios diplomáticos e salvaguardar também os "informantes". (Curiosa é a forma relativamente simples como as informações reveladas pelo Wikileaks poderão ter sido obtidas por Julian Assange, o australiano que é o rosto desta organização e se afirma dedicado à missão da “transparência”. Embora a origem não seja oficialmente conhecida, os mais de 250.000 ficheiros agora revelados poderão ter sido também subtraídos pelo jovem militar, Bradley Manning, já anteriormente detido por suspeita de ter sido responsável pelas revelações de documentos feitas no site WikiLeaks, relativas ao Afeganistão e ao Iraque). Assim, pelo menos nos tempos mais próximos, este ”vazamento de informações” na praça pública irá dificultar muito o trabalho dos seus diplomatas no terreno. Face a esta quebra de confiança na capacidade de sigilo diplomático da principal potência mundial, a recolha de muitas informações fundamentais para o trabalho político-diplomático tornar-se-à particularmente difícil, se não mesmo impossível nalgumas situações. Este é um “dano colateral” que a administração Obama terá dificuldade em reparar e cujas consequências políticas e estratégicas podem ser grandes nos próximos anos.
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