julho 15, 2009
‘Al-Qaeda ameaça interesses chineses em África em resposta à repressão contra os uigures de Xinjiang‘ in Público
Pela primeira vez, a Al-Qaeda ameaçou interesses chineses. É uma forma de retaliação pelas mortes de muçulmanos uigures na província de Xinjiang, no Noroeste da China. E pode ser também um sintoma do papel internacional que Pequim tem vindo a desempenhar.
A célula do grupo de Osama bin Laden no Norte de África - a Al-Qaeda no Magrebe Islâmico (AQIM, com base na Argélia) - lançou um grito de vingança, pedindo um ataque aos interesses chineses no Norte do continente africano, segundo informou a Stirling Assynt, uma rede de análise de informações secretas e terrorismo com sede em Londres.
Não são de esperar ataques dentro da própria China, mas "alguma coisa irá acontecer no Norte de África... Se eu fosse um chinês a viver na Argélia ou no Iémen, estaria realmente preocupado", comentou ao PÚBLICO por telefone Justin Crump, chefe da equipa de terrorismo da Stirling Assynt.
"Há cerca de 50 mil chineses a viver na Argélia e este será o alvo principal, porque os indivíduos são sempre os alvos mais fáceis", adiantou. Outro alvo possível é o dos projectos, sobretudo de infra-estruturas, que a China está a desenvolver. Os países da África subsariana, como Angola, por exemplo, "não estarão em risco".
Para Crump, a ameaça "não é surpreendente", embora a China "não faça parte da estratégia da Al-Qaeda". O facto de os distúrbios, que duram há mais de uma semana, terem acontecido em Xingiang - uma região autónoma onde os uigures formam o maior grupo étnico - não é motivo para, à partida, colocar Pequim debaixo da ameaça islâmica. "Há uma relação muito, muito baixa entre Xinjiang e a Al-Qaeda". Ou seja, "temos informações de que meia dúzia de uigures receberam treino no Paquistão ou no Afeganistão".
E é precisamente nestes países onde o grupo terrorista está a investir as suas energias e os seus recursos, que vão sendo mais escassos, sobretudo desde que os Estados Unidos têm um novo Presidente. "A eleição de [Barack] Obama está a custar apoios."
O analista Kerry Brown, da Chatham House, não conhecia a ameaça dos islamistas, mas afirmou ao PÚBLICO, também por telefone, que este será "um sinal de que a China se está a tornar num actor mais importante na cena internacional. E também num alvo válido para um ataque".
O gesto do AQIM foi recebido pelo Governo chinês também com um aviso: serão tomadas todas as medidas para que a ameaça não passe à prática. "Vamos seguir de perto a situação e fazer esforços conjuntos com os paí-ses envolvidos para tomar todas as medidas necessárias para garantir a segurança das instituições e cidadãos chineses no estrangeiro", afirmou numa conferência de imprensa o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Qin Gang.
Oportunismo do AQIM
A ameaça poderá ter outras consequências para além de ataques na Argélia ou no Iémen. "O Governo [chinês] diz com veemência que em Xinjiang há elementos ligados a grupos terroristas internacionais. O que a Al-Qaeda fez agora foi dar-lhe bases para esse argumento", continua Kerry Brown.
Por outro lado, "a China tem tido um low profile. Isto pode mudar essa posição, e significa que o Governo terá mais interesse em trabalhar com outros parceiros internacionais" na luta contra o terrorismo.
O investigador da Stirling Assynt adianta ao PÚBLICO que "há um certo oportunismo" na atitude do AQIM, que será um "franchising regional da Al-Qaeda": está a aproveitar "os ressentimentos que existem em Xinjiang" em relação à governação chinesa. E, "apesar de a China não fazer parte dos mais altos interesses da Al-Qaeda, o grupo também não se pode dar ao luxo de não dizer uma palavra", quando cidadãos muçulmanos estão a ser vítimas de uma repressão.
Os distúrbios começaram no dia 2 de Julho em Urumqi, a capital da região, quando milhares de uigures foram para a rua exigir uma investigação à morte de dois membros da sua etnia em Guangdong, no Sul da China. Confrontos entre uigures e chineses han (largamente maioritários no resto do país) levaram à morte de pelo menos 186 pessoas e a 1680 feridos.
http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1391824&idCanal=11
JPTF 2009/07/15
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