abril 07, 2008

Macedónia ou Antiga República Jugoslava da Macedónia? As razões geopolíticas do conflito


Quando a República Socialista da Macedónia abandonou a Jugoslávia federal em 1991, a generalidade dos europeus e ocidentais ficou surpreendida pela tenacidade da oposição da Grécia ao reconhecimento do novo Estado como «República da Macedónia». Aquilo que visto sob o olhar ocidental deveria ser uma querela menor, de contornos quase académicos, na Grécia atingiu proporções enormes, ao ponto de ter dado origem às maiores manifestações de massas, após a reintrodução da democracia em 1974. Mas porquê este «histerismo nacionalista» dos gregos em torno de um nome? As razões, mais uma vez, são profundas e algo estranhas para quem esta fora do espaço geopolítico dos Balcãs. Vale a pena lembrar que os desentendimentos na partilha da Macedónia, conquistada por sérvios, gregos e búlgaros aos otomanos na primeira guerra balcânica (1912-1913), foram o principal motivo da segunda guerra balcânica (1913), desencadeada alguns meses depois do fim da primeira, e onde a Bulgária se viu isolada e derrotada nas suas ambições sobre a Macedónia (todavia, os atritos estiveram longe de se restringir a gregos e a búlgaros, existindo outras pretensões, como a dos eslavos ortodoxos da região, de criarem já na altura uma Macedónia independente). Por outro lado, importa ter em conta que, em regiões como os Balcãs, a história não é um mero conhecimento relegada para o foro da academia, como é normalmente o caso da Europa Ocidental, mas também uma poderosa arma política que sustenta discursos de teor nacionalista e ambições irredentistas. Assim sendo, a utilização da palavra «Macedónia» foi vista, com ou sem razão, não só como uma tentativa de usurpação de um legado cultural helénico, como, pior do que isso, um primeiro passo para prováveis reivindicações territoriais sobre a Macedónia grega. O facto do novo Estado independente ter adoptado como símbolo nacional, na sua bandeira, o chamado «sol de Vergina», ainda agravou mais esta percepção da parte da Grécia. Este tem um poder simbólico grande: trata-se de um desenho encontrado em 1977 naquele que se julga ser o túmulo de Filipe II da Macedónia – o pai do mítico Alexandre Magno – na cidade de Vergina, na Macedónia grega. Sobre a perspectiva do governo do novo Estado sobre este litígio - que levou recentemente ao bloqueio da sua adesão à NATO pela Grécia, na cimeira de Bucareste -, ver o texto da autoria da embaixada macedónia em Ancara, A Macedónia não tem nenhum ‘problema de nome‘ publicado pelo Turkish Daily News. Ver também, no mesmo jornal, o artigo de Ariana Ferentinou, Manter a Macedónia fora da NATO. (A Turquia, o Estado que sucedeu ao Império Otomano em 1923, reconhece este Estado saído da ex-Jugoslávia em 1992, sob o nome oficial de República da Macedónia).
JPTF 2008/04/07

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