maio 30, 2008

‘Deputados franceses aprovam claúsula constitucional que obrigará a referendar a adesão da Turquia‘ in EU Observer, 30 de Maio de 2008


The lower house of the French parliament on Thursday (29 May) approved an amendment to constitutional reforms that could make it compulsory for France to hold a referendum on large countries joining the EU, in a move targeting Turkey.

Under the amendment tabled by Jean-Luc Warsmann – a deputy from the centre-right UMP party - holding a referendum would be obligatory to approve the EU accession of any country whose population surpasses five percent of the EU population (about 500 million people).

The provision was approved by the National Assembly with 48 to 21 votes.

The move appears to be targeted at EU candidate Turkey with its population of 70 million, whose accession to the 27-nation bloc is opposed by France and by the majority of UMP deputies.

French president Nicolas Sarkozy – a former leader of the UMP party – is himself an outspoken opponent of Ankara's EU bid, repeatedly stating that he does not think the country belongs to Europe.

The new text singling out the Eurasian state did not get the backing of all centre-right parliamentarians, however.

"Many eyes are fixed on us now - those of our compatriots, but also those of peoples from the world wondering whether we will really introduce in our constitution an arrangement targeting implicitly a particular country," said Bruno Le Maire (UMP), former prime minister Dominique de Villepin's chief of cabinet.

"[If the US put into its constitution an article] targeting Mexico, Columbia or any other country, then France – the country of human rights, would be shocked. I am now afraid that our neighbours might be [shocked] by this new arrangement," he added, before the vote took place.

The provision was widely criticised by the opposition, with socialist MP Rene Dosiere calling it "disgraceful and shameful."

"If in a referendum tomorrow the French say 'no' to Turkey's [EU] membership, while the 26 other countries say 'yes', what will remain of Europe?," his colleague Serge Blisko asked.

But Richard Maille (UMP), the co-author of the amendment, said that "with such populous countries" as "Ukraine, Turkey, Russia, and why not Algeria or Morocco" on the EU's borders, the least the government could do was to automatically consult the French people on future accessions.

Ukraine also affected
Besides Turkey, the amendment would also affect EU hopeful Ukraine with its some 46 million inhabitants.

A Ukrainian diplomat last week qualified the idea as "quite artificial", "unhelpful" and "unfair," saying that "the rules should be equal to everyone."

The whole text aiming to reform the French constitution will be voted upon by the National Assembly in first reading on 3 June, with the Socialist Party already saying it would vote against it.

The Senate will then vote on 10 June, before the two bodies gather for a congress meeting in July for a final decision to be taken by a three-fifths majority.
http://euobserver.com/9/26241/?print=1
JPTF 2008/05/30

maio 28, 2008

Novo video da Al-Qaeda: ‘Jihad nuclear, o terror final‘ in La Repubblica, 28 de Maio de 2008


O FBI norte-americano alertou que está para ser difundido um novo vídeo onde a Al-Qaeda ameaça usar armas de destruição massiva. O video que se intitula ‘Jihad nuclear, o terror final‘ já circula nos canais usualmente utilizados pelos islamistas-jihadistas. Esta nova ameaça terrorista levanta, mais uma vez, a questão de saber se a sua proveniência é mesmo ‘oficialmente‘ da Al-Qaeda e, sobretudo, se estamos peante uma ameaça credível (o que significaria que esta organização já disporia deste tipo de armas...), ou apenas perante mais um exercício de propaganda. Ver notícia integral do La Repubblica.
JPTF 28/05/2008

maio 25, 2008

Mundo globalizado in cartoons do International Herald Tribune, 2005-2007

Revista Hérodote nº 127, Geopolítica do Turismo


Em que medida o fenómeno económico e cultural, em que o turismo se transformou, pode ser encarado em termos geopolíticos? Não é suficiente evocar a globalização em todos os seus aspectos - o tempo em que os estados «socialistas» fechavam o seu território aos turistas e aos capitais estrangeiros faz parte do passado. É preciso, mais do que nunca, colocar os problemas do turismo em termos de rivalidades de poderes sobre territórios com dimensões muito diferentes: desde o planetário e o internacional até aos bairros turísticos e às estações balneares. As agências de turismo excluem dos seus circuitos os países onde existem fortes tensões políticas. Mas os movimentos islamistas, numa estratégia também mundial, consideram o turismo uma ofensa ao Islão: no Egipto, na Turquia ou na Indonésia, grupos terroristas têm por objectivo os turistas ocidentais. Ver apresentação integral do nº 127 (2007) da revista Hérodote.
JPTF 2008/05/25

maio 23, 2008

"A França poderá manter a intenção de referendo sobre a adesão da Turquia" in EU Observer, 20 de Maio de 2008


O Parlamento francês iniciou no passado dia 20 de Maio a discussão de um novo plano de revisão constitucional. Entre outras alterações, a revisão da actual Constituição poderá tornar obrigatória em França a realização de um referendo, sempre que grandes países pretenderem aderir à UE. Na proposta de alteração delineada por Jean-Luc Warsmann – um deputado da Union pour un Mouvement Populaire (UMP) –, a realização de um referendo tornar-se-à constitucionalmente obrigatória para aprovar a adesão de qualquer novo Estado cuja população ultrapasse 5% da população da UE (actualmte cerca de 500 milhões). Ver notícia do EUobserver.com.
JPTF 2008/05/23

maio 19, 2008

Missão da UE no Kosovo adiada sine die


A União Europeia acaba de reconhecer que há uma grande probabilidade de não poder deslocar a a sua nova missão para o Kosovo - a EULEX - composta por juristas e forças policiais, na data prevista, a 15 de Junho. O chefe desta missão europeia, o general francês Yves de Kermabon, reconheceu que a EULEX está adiada sine die, pelo menos enquanto a Missão das Nações Unidas no Kosovo (MINUK) continuar em funções nesse território. Ver notícia no Courrier des Balkans.
JPTF 2008/05/20

maio 16, 2008

‘A mensagem de Osama Bin Laden no aniversário de Israel‘ in Times, 16 de Maio de 2008 (cartoon de Dry Bones)


Osama bin Laden added his voice to the birthday messages accompanying Israel's 60th anniversary, vowing to fight on in the name of the Palestinian cause which he said was of primary concern to all Muslims.

As President Bush left Israel's anniversary celebrations with effusive pledges of US support for the Jewish state, the al-Qaeda leader chipped in with own analysis of the intractable conflict, saying it was one of the principle reasons he had turned to jihad as a young man.

“To Western nations ... this speech is to understand the core reason of the war between our civilisation and your civilisations. I mean the Palestinian cause,” said Bin Laden in a message that lasted almost ten minutes. “The Palestinian cause is the major issue for my nation. It was an important element in fuelling me from the beginning and the 19 others with a great motive to fight for those subjected to injustice and the oppressed,” he said, referring to the terrorists who hijacked four passenger aircraft in September 2001 to attack Washington and New York.

“Sixty years ago, the Israeli state didn't exist. Instead, it was established on the land of Palestine raped by force,” Bin Laden said. “Israelis are occupying invaders whom we should fight.” He is thought to be hiding out in tribal lands on the Pakistan-Afghan border.

Most Palestinians have rejected Bin Laden's claims to be fighting in their name, insisting that while al-Qaeda is killing people to recreate the medieval Caliphate, the vast Muslim empire that finally collapsed with the fall of the Ottomans at the end of the First World War, they simply want a homeland.

Mahmoud Abbas, the Palestinian President currently negotiating peace talks with Israel, recently gave warning that al-Qaeda was moving into the Gaza Strip, which is run by his rivals Hamas. The Islamist movement swiftly denied the claim and insists it has no links to al-Qaeda.

Bin Laden, who has claimed in the past to be fighting on the Palestinians' behalf, said the struggle would not stop. “We will continue, God permitting, the fight against the Israelis and their allies ... and will not give up a single inch of Palestine as long as there is one true Muslim on Earth,” he said in the message, his third this year, posted on an Islamist website.

The al-Qaeda leader said the Western media had spent decades brainwashing people by “portraying the Jewish invaders, the occupiers of our land, as the victims while it portrayed us as the terrorists”.
http://www.timesonline.co.uk/tol/news/world/middle_east/article3946343.ece
JPTF 2008/05/16

maio 15, 2008

Revista Veja, edição de Maio de 1948


O número original de Maio de 1948 da revista brasileira Veja, com o tema em destaque na capa dessa edição dedicado ao nascimento do Estado de Israel, está agora acessível on-line no site da revista. Trata-se de um interessante arquivo de artigos, de entrevistas, de imagens fotográficas e de testemunhos da época. Vale a pena ler, ou reler, para se ter uma ideia como era vista a questão da partição da Palestina, quando findava o mandato britânico e estes retiravam as suas forças do território, e a fundação do Estado Israel no anos subsequentes ao final da II Guerra Mundial. Isto após a tragédia do holocausto nazi que vitimou milhões de judeus e as Nações Unidas (Resolução nº 181 da Assembleia Geral, de 29 de Novembro de 1947), terem aprovado um plano de partição do território da Palestina, entre árabes e judeus. Este não foi aceite pelos primeiros, o que desencadeou a guerra de 1948 - o primeiro de um sucessão de conflitos que se têm prolongado até hoje.
JPTF 2008/05/15

maio 14, 2008

Vanguardia, dossier sobre Israel (nº 19, Abril/Junho 2006)


Na altura do 60 aniversário da fundação do Estado de Israel, vale a pena (re)ler 0 nº 19 do dossier da Vanguardia (Abril/Junho de 2006), que é dedicado a Israel (e não ao conflito israelo-palestiniano). A sua criação como Estado do povo judeu, proclamada a 14 de Maio de 1948, é fenómeno histórico complexo e uma realidade sociopolítica intrigante (Natan Lerner). Apesar dos seus sucessos, nesta sexta década da sua existência confronta-se com dificuldades importantes (Walter Laqueur). No dossier é ainda analisada a história de Israel (Kenneth W. Stein), a complexidade da sua sociedade (Yaakov Kop), os aspectos mais marcantes da sua identidade (Shalom Rosenberg), e até o carácter do seu próprio exército, o Tsahal (Yoram Peri). O dossier analisa ainda a democracia israelita, a única da região, circundada por múltiplos regimes árabes autoritários do Médio Oriente. Mas a democracia israelita tem traços curiosos e atípicos. Por exemplo, não dispões de uma Constituição, devido ao impasse do debate entre laicos e religiosos (Yossi Beilin).
JPTF 2008/05/14

maio 12, 2008

Partido Democrático de Boris Tadić ganhou as eleições sérvias sem maioria absoluta

A aliança eleitoral à volta do Partido Democrático (DS) de Boris Tadić - que tem no seu programa a adesão da Sérvia à UE -, ganhou as eleições com 38.7% dos votos e 103 lugares no novo Parlamento. O Partido Sérvio Radical (SRS) liderado por Tomislav Nikolić, de perfil nacionalista, ficou em segundo lugar com 29.1% e 77 lugares, enquanto o Partido Democrático da Sérvia (DSS) de Vojislav Koštunica teve 11.3% dos votos e 30 lugares. Por sua vez os socialistas (SPS) tiveram 7.9% dos votos (SPS) e 20 lugares, enquanto que os Liberais Democratas (LDP) atingiram uma votação de 5.2%, com 13 lugares no Parlamento. O Parlamento sérvio tem 250 lugares (o limiar da maioria absoluta são 126 lugares), pelo que o Partido Democrático terá de efectuar uma coligação para poder governar. Ver notícia em BE92.
JPTF 2008/05/12

maio 11, 2008

O Hamas visto por (um admirador) Azzam Tamimi


Nos Unritten Chapters sobre o Hamas (publicado pela Hurst & Co Publishers Ltd, de Londres, em 2006), Azzam Tamimi, um palestiniano estabelecido na capital britânica e director do Institute of Islamic Political Thought, apresenta o seu livro como uma nova análise, desapaixonada e não enviesada. O autor propõe-se corrigir os preconceitos dos media e do público ocidental sobre o HAMAS, normalmente visto como um movimento violento e terrorista (todavia, esses preconceitos não existem na redacção do jornal Guardian, onde o autor tem uma coluna regular, ao contrário dos seus críticos). Assim, a visão alternativa Azzam Tamimi é feita a partir de dentro do próprio movimento. Esta é certamente uma apresentação sedutora que sugere que a identidade do HAMAS e dos islamistas radicais está a ser ‘mal representada‘. A imagem ternurenta da capa, com o doce olhar de uma mãe e do seu filho, também sensibiliza. Afinal, talvez estejamos enganados e se trate mesmo de uma organização incompreendida, uma espécie de ONG humanitária islâmica. Mas, sendo assim, qual é então a ideologia do HAMAS? De forma bem mais esclarecedora do que no livro de Azzam Tamimi, esta pode ser aferida pela leitura do seu pacto fundador, disponível integralmente (em língua inglesa) no site da Escola de Direito da Universidade de Yale. O slogan (art. 8º) «Alá é o objectivo, o Profeta o seu modelo, e o Corão a sua constituição: A jihad é o seu caminho e a morte na senda de Alá é o mais sublime dos seus desejos», é bem sugestivo de uma missão que não é bem humanitária. Nada como saber a maneira como o HAMAS se apresenta a si próprio.
JPTF 2008/05/11

O Al-Andalus e Roma serão terras islâmicas segundo Ali Al-Faqir, ex-ministro das propriedades religiosas da Jordânia

maio 10, 2008

A geração do Maio de 68 e o bardo do Asterix

A geração do Maio de 1968 faz lembrar Assurancetourix, o bardo dos livros de banda desenhada do Astérix, apropriadamente chamado Cacofonix em língua inglesa. Também aqui as opiniões se dividem sobre as qualidades dos soixante-huitards: eles julgam-se uns génios que mudaram o mundo e elogiam-se a si próprios; a maioria dos outros acham que são uns chatos insuportáveis, sendo bons compagnons de route quando estão calados ...
JPTF 2008/05/10

A ascensão do resto: o mundo pós-americano, de Fareed Zakaria

No seu mais recente livro The post-American World, acabado de publicar nos EUA pela W. W. Norton (um ensaio de 288 páginas), Fareed Zakaria, editor de ascendência indiana da revista Newsweek, traça um retrato prospectivo do mundo nas próximas décadas do século XXI. Sem grande surpresa, a sua antevisão é um mundo ‘pós-americano‘ marcado pela ‘ascensão do resto‘ (leia-se do mundo não ocidental). Apesar das angústias da ‘superpotência solitária‘ (a expressão é de Samuel P. Huntington) e das incertezas e riscos existentes, que este antecipa e discute, a sua visão está imbuída de um certo optimismo - resta saber se a evolução futura o confirmará. Algumas das ideias centrais do livro estão condensadas no artigo Fareed Zakaria para a Foreign Affairs de Maio/Junho de 2008, intitulado The Future of American Power:How America Can Survive the Rise of the Rest.
JPTF 2008/05/10

maio 09, 2008

O dia da Europa e o ‘inverno da democracia‘

No seu mais recente livro, O Inverno da Democracia, Guy Hermet (p. 116), faz uma interessante crítica à União Europeia e às sua estratégia de manipulação linguística da realidade: "Ao nível do nosso continente, a novilíngua [uma referência ao livro 1984 de George Orwell], mais sabiamente calculada é a da administração europeia de Bruxelas, que se agarrou sistematicamente à elaboração de um léxico respondendo às necessidades de uma integração económica orientada numa perspectiva liberal [...] Por outro lado, desde uma data mais recente, os funcionários da União empenharam-se a redigir um pequeno manual dirigido aos oficiais europeus, destinado a evitar toda a inconveniência politicamente incorrecta. Estes deverão, por exemplo, evitar falar de ‘terrorismo islâmico‘...". Este processo, aparentemente inocente, tem consequências negativas sobre a democracia, como este explicou numa entrevista dada ao Le Monde (26 de Outubro de 2007): "É preciso não esquecer que logos, em grego, significa quer palavra, quer razão. Assim, quando se cria confusão nas palavras, ‘desinstruem-se‘ as pessoas, e mina-se o espírito critico. Por exemplo, fico surpreendido – eu que sou muito pró-europeu – pelo vocabulário que destilam as instâncias comunitárias: fala-se de ‘governação‘ [ou governança] em vez de «governo», ou ainda de ‘ajustamentos sociais‘ para eufemizar o que conduz de facto ao desmantelamento do Estado-Providência. Em síntese, um léxico anestesiante que tende as despolitizar os problemas e a esconder o carácter conflitual da realidade. A consequência é um empobrecimento do pensamento. A verdadeira democracia reside na capacidade que o povo tem de efectuar escolhas. Por isso, ele deve ver aí com clareza. O importante é reencontrar esta capacidade de resistência que oferecem as palavras". Uma leitura estimulante para todos os portugueses e europeus neste dia da Europa. Ajuda a pensar a realidade para além de uma novilíngua empobrecedora, cujo sucesso se deve, em grande parte, ao papel acrítico dos media e um discurso político feito, cada vez mais, de slogans que ‘libertam‘ o cidadão do sofrimento de pensar e de fazer escolhas. O processo de negociação e ratificação do Tratado de Lisboa é o exemplo mais recente de como a União Europeia está a contribuir para o "inverno da democracia".
JPTF 2008/05/09

O ‘partido de Deus‘ (Hezbollah) ao assalto do Estado libanês

‘O futuro incerto da Turquia‘, artigo de Michael Rubin

Interessante comentário de Michael Rubin, no Middle East Forum, sobre o processo judicial em curso na Turquia contra os islamistas-conservadores do AKP - o partido de Erdoğan e Gül -, que este vê como uma forma de afirmação da democracia e não como um assalto à mesma, como tipicamente é apresentado nos media ocidentais. Vale a pena ler, sobretudo por contraponto à escassa e pouco esclarecedora informação disponível na imprensa portuguesa e à confrangedora ingenuidade (?) da União Europeia, que parece ainda não ter percebido a hábil estratégia de (re)islamização do social e do político do AKP, posta em prática a coberto de valores ‘europeus‘.
JPTF 2007/05/09

maio 08, 2008

A ideia de Europa: da Antiguidade Clássica ao Século XXI

"É bem conhecida a origem mitológica da palavra «Europa», que se encontra na Antiguidade clássica grega. O Dicionário Cultural da Mitologia Greco-Romana de René Martin (1992: 109) descreve-nos esse mito: a Europa «era filha de Agenor, rei da Fenícia, e irmã de Cadmo. Quando brincava numa praia com as suas companheiras, Zeus viu-a e apaixonou-se. Para a seduzir, transformou-se em touro e prestou-se aos jogos e às carícias das jovens. Europa foi mais ousada e montou no seu dorso; então Zeus raptou-a e atravessou com ela o mar até Creta. Da sua união nasceram Minos, Radamanto e Sarpédon; este episódio marca a origem divina da dinastia cretense de Minos». Como explica o historiador norte-americano da Universidade Johns Hopkins, J.G.A. Pocock (2002: 56), para além da beleza narrativa da explicação mitológica, no mundo antigo, a palavra servia, mais prosaicamente, para designar um continente – a(s) terra(s) helénica(s) situadas na margem esquerda do mar Egeu, a Ocidente do Bósforo, por oposição à terra (continente) situada no seu Oriente, designada por Ásia [...]." Ver artigo integral na Revista de Ciências Empresariais e Jurídicas, nº 12. (2007), pp. 83-97.

maio 07, 2008

E se a União Económica e Monetária for (também) responsável pela estagnação das economias do ‘clube Med‘?


1. No quadro actual em que a economia portuguesa continua a não ter um desempenho satisfatório – e tudo indica que não o terá nem este ano, nem também para o próximo ano – vale a pena recordar um debate, aparentemente já ultrapassado, mas que provavelmente é mais actual do que nunca. Na década anterior, quando o processo de construção da União Económica e Monetária (UEM) estava em marcha, discutia-se se as economias do ‘clube Med‘ (leia-se Portugal, Espanha, Grécia e Itália) teriam condições para a integrar a moeda única europeia, o euro. Colocava-se também a questão de saber se a Eurolândia – o nome dado pelos media à zona euro – seria, ou poderia vir a ser, uma zona monetária óptima, tal como foi teorizada pelo prémio Nobel da economia, Robert Mundell e outros. Ou seja, se reunia os requisitos que, a nível da teoria económica, são apontados para que a introdução de uma moeda única seja bem sucedida. Precisamente também há dez atrás era efectuada a selecção das moedas que transitaram da 2ª para a 3ª fase da UEM, entre as quais o escudo. Recorda-se que altura, e contra as expectativas inicias sobre a incapacidade das economias do ‘clube Med‘ participarem no processo, só a Grécia ficou excluída (em 2000 acabou por juntar-se ao grupo dos países fundadores, após ter recorrido a alguns exercícios de contabilidade nacional ‘criativa‘, para cumprir os critérios de convergência nominal...). Os outros não participantes foram países que optaram por manter a sua moeda nacional, como o Reino Unido, a Dinamarca e a Suécia. Hoje começamos a ter um histórico de dados concretos, os quais, com alguma substância, permitem já analisar um pouco esta experiência monetária e ver se o entusiasmo vivido há uma década atrás em Portugal, por integrarmos o ‘pelotão da frente‘ do euro, como dizia entusiaticamente a nossa imprensa (habitualmente acrítica na discussão das questões europeias), era justificado.

2. Segundo dados do Eurostat, os resultados da evolução do nível de vida das economias do ‘clube Med‘, no período 1997-2007, foi a seguinte (avaliada esta em PIB/per capita corrigido por Paridade de Poder de Compra): Itália de 119,3% para 101.8%; Espanha de 93,5% para 104,6%; Grécia 84,9 para 98,5%; Portugal 76,3% para 73,9%. A isto podemos também juntar os dados da França (o país onde o verdadeiro ‘Clube Med‘, enquanto empreendimento turístico, teve origem...): de 114.9% para 109.7%. Note-se que o valor médio para esta estatística (100%), está feito para a UE 27. Se considerássemos a média para a UE 15 esta seria 110.8% (ou seja, houve um aumento artificial de convergência devido à queda da média pelos alargamentos de 2004 e 2007). Estes resultado mostram claramente que duas das economias do ‘Clube Med‘ retrocederam na última década: a Itália (-17,5%), Portugal (-2,4%) e a própria França (-5,2%). De sinal contrário temos os casos da Espanha, que progrediu 11,1% e da Grécia progrediu 13,8%. Se tivermos em conta que o sucesso da economia espanhola da última década assentou num modelo de crescimento que provavelmente está em vias de se esgotar – construção imobiliária, consumo interno com significativo endividamento das famílias e transferências avultadas ao abrigo dos fundos estruturais (os quais, só por si, induziram um crescimento de 0,84% da economia), acrescidas de apoios financeiros da política agrícola europeia (da qual os agricultores espanhóis são os mais beneficiados, a seguir aos franceses) – não é de excluir que, nos próximos tempos, a Espanha se venha a juntar à Itália e a Portugal nesta estagnação ou até regressão económica e de bem-estar. Por outro lado, se Thomas Mayer, o economista-chefe do Deutsche Bank, tiver razão quando afirma que a Grécia ‘é um acidente à espera de acontecer‘, as perspectivas para o conjunto das economias do sul da Europa tornam-se ainda mais deprimentes. Até agora, as culpas têm normalmente ficado para os executores nacionais – os governos –, vistos como ineficientes e incapazes de cumprir as metas da convergência nominal, sobretudo ao nível do défice orçamental e da dívida pública, bem como de aumentar a competitividade das suas economias. Todavia, uma questão permanece em aberto: se a estagnação económica e o retrocesso do nível de vida persistir nos próximos anos, não será que as apreensões que existiam no início dos anos 90, sobre a inadequação da UEM às economias do ‘clube Med‘, se estão mesmo a confirmar?
JPTF 2008/05/07

maio 01, 2008

Aristóteles no Monte Saint-Michel, de Sylvain Gouguenheim


1. O historiador e medievalista francês, Sylvain Gouguenheim, professor da Escola Normal Superior de Lyon, publicou recentemente um livro demolidor e polémico, que já lhe valeu a hostilidade de vários colegas de profissão. Nesse livro, o autor analisou em detalhe a tese, muito divulgada actualmente, de que a Europa teria um importante débito face ao Islão, na transmissão do saber da Antiguidade Clássica grega, através do Al-Andalus (a Península Ibérica muçulmana medieval), da Sicília, etc. Como este vai evidenciando ao longo do trabalho, esta é uma percepção que, embora com fundamento histórico, tende a ser bastante exagerada, algo que se pode verificar através de um exame mais minucioso da Idade Média europeia. De facto, em parte essa percepção deve-se a um relativo (des)conhecimento do período medieval europeu, visto superficialmente como uma ‘idade das trevas‘. Normalmente é subestimado o grau de persistência da herança cultural da Antiguidade Clássica, apesar de tudo apreciável, bem como o trabalho autóctone de tradução - como foi o caso do desenvolvido na abadia do Mont Saint-Michel, em relação aos textos de Aristóteles e outros filófosos da Antiguidade -, que precedeu em cerca de meio século o efectuado no Al-Andalus. (Tudo isto não é muito surpreendente, se nos lembrarmos que o grego era a língua dos Evangelhos, como recorda Sylvain Gouguenheim, o que constituía um importante estímulo para o seu conhecimento). Para além disso, baseia-se também numa tendência dos historiadores ocidentais para a subvalorização do importante contributo da civilização bizantina na transmissão do saber da Antiguidade Clássica ao Ocidente latino e germânico, durante o período da Alta Idade Média. Alimenta-se, ainda, de uma vulgar confusão que existe na Europa e Ocidente entre árabes e muçulmanos.

2. Um aspecto normalmente desconhecido, pelo menos do grande público, é que grande parte do trabalho de tradução dos manuscritos gregos foi efectuado não por muçulmanos, mas por cristãos árabes (sobretudo aramaicos ou sírios) do Médio Oriente, os quais, entre os séculos VIII e X constituíam a maioria da população do império árabe islâmico na região (e eram praticamente os únicos que tinham as competências linguísticas necessárias para essa tradução, pelo menos nos primeiros tempos). Por outro lado, e este é também um ponto crucial, o interesse pela Antiguidade Clássica e o legado da Filosofia grega, nunca foi incorporado na cultura islâmica dominante, sendo restrito a uma elite intelectual (Averróis, Avicenas, etc.), ao contrário do que aconteceu na Europa, onde acabou por ter uma difusão alargada e se misturar com o próprio Cristianismo, como é bem visível no Renascimento dos séculos XIV a XVI. Isto não significa, naturalmente, que o Islão não tenha influenciado o Ocidente cristão em vários aspectos culturais, tecnológicos e até teológicos. Por exemplo, como assinalou Jacques Ellul, no domínio teológico essa influência pode detectar-se nos sucessivos apelos papais aos milites Christi (soldados de Cristo), a partir do final do século XI, com bulas concedendo benefícios aos que integrassem as cruzadas. Esses apelos e bulas papais denotam uma influência dos textos dos teólogos-juristas muçulmanos medievais (sobretudo comentários ao Corão e aos ahadith, as acções e ditos do Profeta Maomé) sobre a jihad (entendida como uma espécie de bellum justum). Estes exortavam os muçulmanos à participação na ‘guerra santa‘ e prometiam recompensas aos que nela participassem com a sua vida e bens - um modelo de sucesso que o Cristianismo ocidental, mas não o Cristianismo ortodoxo bizantino -, procurou imitar através das cruzadas.

3. Sem estar isento de críticas ou algumas debilidades pontuais, este livro constitui uma leitura interessante e merecedora de reflexão. Note-se que o tema, apesar do seu distanciamento histórico, ainda hoje move paixões e não é neutro politicamente, sobretudo no actual clima de relações conturbadas com o mundo islâmico onde paira o espectro de um ‘conflito de civilizações‘. Todavia, o seu principal mérito é o de funcionar como um válido contraponto face a um enviesamento do passado que tende a ser gerado por um certa vulgata ‘histórica‘, imbuída, consciente ou inconscientemente, de uma ideologia multiculturalista. Esta, ao projectar no período medieval formativo da Europa os ideais e utopias do presente, acaba por recriar uma nova ‘história‘ que se vê a si mesmo como ‘progressista‘ e aberta ao ‘outro‘. A ironia é que, embora sob outras formas, esta visão necessita de ‘descobrir‘ as suas próprias mitologias (multiculturalistas) para se legitimar. A mais conhecida é a de um Al-Andalus das ‘três culturas‘, onde muçulmanos, cristãos, e judeus ‘conviviam‘ lado o lado. O problema que este tipo de imagens ‘multiculturais‘ do passado é que não são menos distorcedoras do que as difundidas pela historiografia nacionalista, a qual ‘descobria‘ episódios ‘nacionais‘ no período medieval e pré-medieval. Como é bem conhecido e criticado, no apogeu dos nacionalismos europeus o passado era frequentemente reinterpretado à luz do presente, ou seja, da ideologia nacionalista da época. Hoje estamos perante um fenómeno similar: o que mudou foi a ideologia dominante. Impõe-se, por isso, adoptar uma similar dose de saudável cepticismo, como aquela que foi adoptada face à narrativa da historiografia nacionalista. Neste sentido, o livro traz um contributo relevante.
OBS: O texto corresponde, com pequenas modificações, à recensão publicada na revista Crítica
JPTF 2008/05/01